Tuesday, January 13, 2009

As riscas do Risco

iscoNas imagens aéreas da área do Risco, são visíveis alinhamentos geológicos de direcção NE-SW; como curiosidade, note-se que as fiadas de pinheiros são concordantes com esses alinhamentos.
Não confundir com os riscos das riscas.





Monday, January 12, 2009

Describing a circle

Introdução ao Desenho Arqueológico de Campo, na estrutura circular do Risco.
A quadratura do círculo.





A Aula do Risco

Discussões à volta do tema Risco / Roça do Casal do Meio.












Sunday, January 11, 2009

Size matters

A prospecção da área da Roça do Casal do Meio levou a uma drástica ampliação da área de habitat do Bronze final, nas imediações do monumento.
Falta rever o espaço entre os dois conjuntos agora definidos: a Roça do Casal do Meio e o Risco/Marmitas.
Seja qual for o resultado dessa revisão, estamos perante indícios de uma extensão absolutamente excepcional no panorama do povoamento da Idade do Bronze, em Portugal: no total, as áreas de dispersão dos vestígios superam largamente os 50 ha.
















O mapa cor de rosa: manchas amarelas: áreas de dispersão de artefactos do Bronze Final; mancha cor de rosa: área a rever.

A arte do Risco

Trabalhos de campo, no povoado proto-histórico do Risco.
Iniciou-se o desenho da planta da estrutura circular que motivou a descoberta do povoado, com base numa quadrícula implantada "artesanalmente", com fita métrica e telemóvel.
Com estudantes de artes (Faculdade de Belas Artes), demos início ao projecto de elaboração de ilustrações, com reconstituições hipotéticas de alguns sítios e paisagens, de várias épocas, em Sesimbra.
A Roça do Casal do Meio (monumento funerário calcolítico, aparentemente reutilizado no Bronze final, e certamente o monumento sesimbrense melhor conhecido, na bibliografia arqueológica internacional) será um dos temas a explorar. Assim como o enorme povoado que, nos últimos dias, tem vindo a ser identificado e delimitado.
Pelas veredas do Risco

Na lapa junto à Marmita do Gigante, um monumento geológico, junto aos limites do povoado do Bronze Final, e que certamente não passou despercebido aos respectivos habitantes. Archaeology of Natural Places?

Esperando a Lua Cheia, na Roça do Casal do Meio, após a análise dos vestígios.

O nascer da Lua Cheia sobre a Arrábida, vista da Roça do Casal do Meio.

Detalhe da paisagem do Risco (desenho da Chachá)





Friday, January 9, 2009

Quem não arrisca...

Uma rápida inspecção da área entre os povoados proto-histórico do Risco e das Marmitas, permitiu-me hoje concluir que não existe provavelmente solução de continuidade entre ambos: trata-se de um único povoado, de consideráveis dimensões (com base na topografia e na dispersão dos materiais, pode estimar-se uma área entre 20 e 30 ha.

O cáracter aberto é um dos enigmas mais interessantes, numa época - o Bronze Final -em que, no Sudoeste peninsular, os grandes povoados se implantam geralmente em locais com elevada defensabilidade natural (cumeadas, cabeços, esporões...), quase sempre com sistemas defensivos complexos (muralhas, fossos, cavalos de frisa...).
Não é o caso do Risco/Marmitas.

É certo que, no mesmo quadro geográfico, se conhecem pequenos sítios de habitat, sem defensabilidade, nem defesas construídas.

Trata-se de um patamar ligeiramente inclinado, na base da vertente abrupta da Serra do Risco, no lado oposto à famosa ravina mais alta da Europa: o acesso a partir do mar estava, pois, bem protegido.
Dos outros lados, os declives são reduzidos: o povoado parece ser delimitado, a Leste e Oeste, por duas linhas de água tranversais.


Apesar da falta de defensabilidade natural, o povoado desfrutava de um amplo domínio visual sobre o território envolvente. Note-se que o pequeno povoado contemporâneo do Castelo dos Mouros (já em Setúbal) é claramente visível a partir do Risco. Sentinela ou residência de elite?



O Castelo dos Mouros, visto do Risco/Marmitas

Possíveis restos de estruturas no povoado das Marmitas


A estratigrafia do solo natural, nas imediações do povoado, ronda os 50 cm (observada no corte de uma das pedreiras artesanais.


Wednesday, January 7, 2009

Meia Velha

Área ocupada pelo sítio da 1ª Idade do Ferro da Meia Velha (mancha laranjada). 1. Meia Velha; 2. Meia Velha 8; 3. Gruta do Eremita.
Sesimbra vista da extremidade da plataforma da Meia Velha

Paisagem da Meia Velha: uma extensa rechã, cortada por falésias abruptas, com abrigos na base.

Meia Velha 8. Muros arruinados, de época recente, sobrepondo dois muros ou embasamentos, formando ângulo recto e visíveis apenas ao nível do solo. Estes, provavelmente, são da 1ª Idade do Ferro, atendendo aos materiais recolhidos na área.

Aspecto geral das estruturas da Meia Velha 8


A gruta do Eremita, vista do esporão, junto às estruturas da imagem anterior. A partir de agora, esta gruta é altamente suspeita de ter tido enterramentos da 1ª Idade do Ferro.

Os mesolíticos andam aí. Duas lamelas, a juntar a uma terceira, sem cerâmica neolítica, será o quê? É olhar para a cara do Miguel...



Revendo dados das prospecções de 2007 (em que o Miguel tinha já participado), identificou-se o primeiro sítio de habitat da 1ª Idade do Ferro: antes tínhamos identificado as primeiras ocupações em gruta (eventualmente funerárias), dessa época, em território sesimbrense.


De facto, o sítio tinha antes sido definido, com base na presença de cerâmica manual, como pré-histórico, sendo igualmente feita referência à presença de cerâmica de roda.


Numa análise mais atenta, verificou-se que, entre a cerâmica de roda, havia material mais patinado e outro mais fresco, correspondendo este, claramente, a uma dispersão de materiais (off site), relacionável com a estrumada dos terrenos, de época contemporânea.


Os materiais da Idade do Ferro, para além das referidas cerâmicas patinadas, incluem asas de rolo e bordos extrovertidos.


O habitat estende-se entre um esporão muito conspícuo, na borda da plataforma (onde se localizam as estruturas Meia Velha 8) e uma área a montante com cerca de 1 ha confirmado.








Por último, os trabalhos anteriores tinham registado vários achados avulsos, contituidos por seixos talhados, que confirmámos. Em dois pontos diferentes da plataforma, identificámos ainda três lamelas de sílex, uma delas usada como suporte de um possível geométrico fracturado.


A ausência de cerâmica pré-histórica permite colocar o mesolítico como a cronologia mais provável... mas vamos ainda testar a coisa.


Tuesday, January 6, 2009

Os riscos do Risco

O Risco foi arisco. Estava ali exposto, visível e previsível, mas "escondido" debaixo do matagal de vegetação espontânea que, nas últimas décadas, tem recuperado sob os auspícios do Parque Natural.
É, por outro lado, um excelente tema para reflectirmos sobre os objectivos, os métodos e os limites da prospecção arqueológica e dos inventários arqueológicos.
Numa visita anterior, guiada pelos espeleólogos de serviço, a equipa fez o reconhecimento de uma estrutura circular, aparentemente mal conservada, que, adequadamente, foi relacionada com o monumento da Roça do Casal do Meio (especulação que, aliás, foi levantada, logo no primeiro dia de prospecções, com base nas informações e nas observações do Francisco Rasteiro).
Nas imediações dessa estrutura (e de outra muito menos evidente), foram identificados e registados abundantes fragmentos de cerâmica "pré-histórica", uma lasca de sílex e um fragmento de instrumento de pedra polida.

Numa nova visita, em jeito de "abertura oficial" das prospecções de 2009, os dados em si não se alteraram: alterou-se, porém, profundamente, a entidade dos achados.
Na verdade, apesar de, no total, se tere recolhido mais de uma centena de fragmentos cerâmicos, quase exclusivamente de cerâmica manual, com cozeduras irregulares, pastas pouco compactas, curiosamente, não se recolheu nenhum bordo ou qualquer outro elemento de diagnóstico (fundos, asas, mamilos, decorações...). Só cacos e, na última visita, mais uma lasca de sílex.

Perante estes dados, poderíamos apenas, teoricamente, classificar o sítio como Pré ou Proto-histórico; isto é:
a) Neolítico Antigo, atendendo a que estamos numa área próxima do sítio da Roça do Casal do Meio 2, identificado no ano passado. Porém, sem cerâmicas decoradas e com pouco sílex, seria pouco plausível;
b) Neolítico Médio. Sem paralelos conhecidos em Sesimbra, mal caracterizado ergologicamente, e onde, pelo menos, seria de esperar maior presença do sílex.
c) Neolítico Final. Plausível, em termos de implantação e de contexto, podia complementar o povoado dos Prados, ali ao lado. Porém, o aparecimento de formas abertas, acentuado no Calcolítico, torna inverosímil que em, mais de 100 fragmentos, não exista um único fragmento de bordo ou carena. O sílex também deveria estar mais presente.
d) Calcolítico. A presença esmagadora de formas abertas, torna ainda mais expressiva a ratio entre perímetro do bordo e superfície da peça; faltariam também elementos recorrentes, como os pesos de tear, o barro de cabanas, etc.
e) Bronze Antigo/Médio. Enigmática, por ser mal conhecida, esta época não é de excluir; na verdade, existem vária questões genéricas, ainda muito em aberto, relacionadas, por um lado, com a crise (as crises?) do Calcolítico - que parece ter tido consequências ao longo de quase todo o 2º milénio - e a emergência do povoamento do Bronze final, numa envergadura completamente distinta.
f) Bronze final. O tipo de cerâmicas (pastas, cozeduras, tratamentos de superfície), e a relação muito expressiva entre fragmentos de parede e bordos, mesmo sem outros elementos de diagnóstico, aponta para o Bronze Final.

Como sabemos, os cacos não falam: é preciso falar por eles, servir de intérprete, interpretá-los.
Neste caso, em que não foram observados "fósseis directores", interpretar os dados implica, entre outras coisas, ver a floresta, para além da árvore, sem deixar de olhar para além da floresta. Em vários sentidos.
Claro que corremos riscos, ao interpretar; e temos que fazê-lo sem preconceitos, de mente aberta. Na prospecção, como na vida. Podemos sempre falhar: se isso acontecer - e acontece a todos - voltamos ao princípio, relemos os dados e voltamos a produzir novas interpretações.

Porém, para inferir esta cronologia, existiam já outros elementos:
1) A reutilização da Roça do Casal do Meio, como sepultura de elites indígenas, tinha sido recentemente proposta por Harrison, com base na análise da documentação inédita das escavações de K. Spindler.
A descoberta, no ano passado, do povoado das Marmitas, resolvia já, efectivamente, a questão dos indígenas vs intrusos, criando um contexto local para o monumento.
Porém, o carácter "elitista" dos enterramentos da Roça do Casal do Meio suporta, naturalmente, a possibilidade de o povoamento ser mais intenso e se estender, com ou sem solução de continuidade, muito para além do povoado das Marmitas.
Tal como os achados metálicos das Pedreiras... ou a sentinela que parece ser o Castelo dos Mouros, já no concelho de Setúbal, mas à vista das Terras do Risco.

Na verdade, como se pode verificar na imagem do Google, o povoado das Marmitas e o agora identificado povoado do Risco correm o risco de serem uma e a mesma coisa. Falta verificar.
É certo que povoamento do Bronze Final, distribuído em pequenos núcleos, em redor de um povoado central, foi recentemente identificado em Monsaraz, e que podemos aqui estar perante um fenómeno semelhante.

Num cálculo aproximativo e ainda provisório, tendo em conta a topografia, (falta prospectar entre os dois sítios) o povoado das Marmitas ocupará uns 5 ha, enquanto o povoado do Risco ocupará cerca de 15 ha.

Se se confirmar, estamos perante uma descoberta que resolve velhas questões em volta da interpretação da Roça do Casal do Meio. Temos indígenas. Pexitos do Bronze Final.

As reutilizações quase sistemáticas das cavidades cársicas no Bronze Final, um fenómeno bem conhecido em Sesimbra (a Lapa do Fumo é uma imagem de marca para as cerâmicas de ornatos brunidos) completam o quadro mental que presidiu à reutilização da Roça do Casal do Meio.

As recentes descobertas de evidências correspondentes à 1ª Idade do Ferro, também em contextos cársicos, fornecem dados que nos permitem, por outro lado, vir a equacionar questões como a da transição Bronze Final-Ferro, no contexto dos circuitos orientalizantes dos estuários do Tejo-Sado.

A estrutura circular que motivou as visitas ao local, pode, à partida, ser interpretada de diferentes formas:
1) Trata-se de um tholos não reutilizado. A forma, as dimensões e o contexto permitem sustentar esta hipótese. A escassez de pedras (presentes, em larga escala, na Roça do Casal do Meio) pode eventualmente, explicar-se pela reutilização do material, no contexto do povoado da Idade do Bronze.
2) Tholos reutilizado como sepultura. Pouco plausível, atendendo à separação espacial entre a necrópole o povoado, que a Roça do Casal do Meio implica. Também os dados gerais sobre o mundo funerário não sustentam esta hipótese.
3) Fundo de cabana do Bronze Final. No Sudoeste, as cabanas do Bronze Final tendem a ser de planta oval, delimitadas com lajes em cutelo. A planta da estrutura é compatível com a das cabanas calcolíticas, mas não há evidências dessa época, nos materiais de superfície.
4) estrutura de época histórica e de cariz etnográfico (abrigo de pastores ou curral).


A estrutura circular


Avaliando a estrutura circular


Pequena estrutura curva, aparentemente de origem antrópica, nas proximidades da anterior.


A Arrábida vista das Terras do Risco


1. Calhariz; 2. Pedreiras artesanais; 3. Povoado das Marmitas (Bronze Final); 4. Marmita do Gigante; 5. Povoado da Roça do Casal do Meio 2 (Neolítico Antigo) ; 6. Roça do Casal do Meio; 7. Povoado dos Prados (Neolítico Final/Calcolítico) ; 8. Falésia mais alta da Europa; 9. Povoado do Risco (Bronze Final); 10. Pedreiras industriais.

De profundis...

... surgiu 2009.
Em ambiente espeleológico light (abrigo na base das falésias da Meia Velha). O nevoeiro, a chuva, o mar - e até um pouco de Sol - lá fora; no abrigo, fogueira viva, bar aberto, buffet, com requintes de civilização e tudo. E companheirismo, solidariedade.
Espeleólogos e espeleo-arqueólogos da nova geração. A Arrábida vai mudar.






Paisagens oníricas.
As forças da natureza.