Wednesday, April 25, 2007

Fase 1 - Avaliação dos dados disponíveis

Objectivos

Numa primeira fase, a desenvolver entre Abril e Junho de 2007, o objectivo principal, em termos de trabalho de campo, é a revisão e reavaliação dos sítios já identificados, assim como a respectiva referenciação, com coordenadas obtidas com GPS.
Estes sítios correspondem, na sua maioria, aos que foram sendo registados, desde os finais do século XIX, e que foram reunidos na Carta Arqueológica de Sesimbra (obra póstuma, editada pela Câmara Municipal de Sesimbra, em 1994, da autoria de Eduardo da Cunha Serrão).
A essa listagem somam-se alguns dados entretanto descobertos e publicados por João Luis Cardoso e, sobretudo, um conjunto significativo de novos sítios, descobertos pela equipa do NECA - Núcleo de Espeleologia da Costa Azul, alguns deles com a colaboração da Dra. Rosário Fernandes.

A revisão dos sítios conhecidos serve, por outro lado, como formação/treino dos elementos da equipa, para além de proporcionar uma perspectiva global das possibilidades e limitações do concelho de Sesimbra, em termos de prospecção arqueológica de superfície.

Com base nesta avaliação preliminar, serão delineadas as estratégias de prospecção a adoptar, em função de múltiplos factores: acessibilidade, coberto vegetal, resolução de questões científicas colocadas pelos dados disponíveis.


As pegadas de dinossáurios do Cabo Espichel
Antes do início dos trabalhos propriamente ditos, a equipa visitou, guiada pelo Prof. Dr. Luis Gonçalves, as pegadas de dinossáurios do Cabo Espichel. Numa paisagem muito especial. Mais informação no Gema Blog








O Sumidouro dos Ouriços
Depois de uma tentativa frustrada para relocalizar a Roça do Casal do Meio (monumento de falsa cúpula, com dois enterramentos do Bronze Final), numa área com um coberto vegetal muito denso, identificámos, nas imediações de uma cavidade cársica (o Sumidouro dos Ouriços) descoberta e explorada pelo NECA, um povoado pré-histórico que, atendendo aos escassos materiais observados, pode, provisoriamente, ser atribuído ao Neolítico final (cerâmica manual, lascas de sílex e um fragmento de lâmina espessa, retocada). O povoado ocupa uma área plana, fértil (os Prados), enquadrada pela Serra da Arrábida, a Serra do Risco e as Terras do Meio. Note-se que, na exploração da cavidade, tinham já sido identificados alguns fragmentos de cerâmicas manuais.



A paisagem dos Prados. O povoado identificado localiza-se nos terrenos cultivados, em segundo plano.

O Sumidouro dos Ouriços, em cuja desobstrução, pela equipa do NECA, foram recolhidas cerâmicas manuais.






Amieira
Sítio identificado por João Pinhal (CMS), foi classificado como Neolítico, pelo Pof. Dr. João Cardoso. Porém, a ausência de cerâmicas e a própria estrutura das indústrias líticas - a par da localização do sítio - sugerem antes uma atribuição cronológico-cultural ao Mesolítico Final. De entre os artefactos mais característicos, destacam-se os trapézios e os triângulos. Localiza-se numa lomba transversal à linha de costa, a algumas centenas de metros da foz da ribeira da Amieira. Os materiais dispersam-se, maioritariamente, numa encosta suave, exposta a Sul.











Fonte de Sesimbra
Povoado neolítico (com cerâmica decorada, pedra polida, pedra lascada, nomeadamente sílex, quartzo e quartzito e elemento de mó manual). Foi descoberto por Luis Barros e estudado por Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares. Localiza-se numa plataforma arenosa, entre duas linhas de água. A revisão do sítio e da área envolvente, permitiou identificar quatro nosvos sítios com materiais pré-históricos (dois achados avulsos de sílex e quartzito e dois outros com cerâmica, sílex e uma bigorna dupla).





Bolsa de terra escura, arqueológica, num corte recente, na área do estaleiro da CMS





Cavidades do sistema do Frade
Foram visitadas e cartografadas várias cavidades inéditas (Lapa dos Pinheirinhos, Lapa do Sono, Lapa do Jerónimo, Lapa dos Corvos, Lapa das Janelas 1, Lapa de 4 de Maio) de vários tipologias, ao longo da arriba entre os Pinheirinhos e o Cabo Espichel. Foi ainda visitada a Lapa do Bugio. A maior parte apresenta vestígios de utilização funerária. Foram ainda visitadas as Lapas do Agoirento e dos Velhos, estas, aparentemente, sem vestígios arqueológicos. Na Lapa das Janelas 1 foram identificadas cerâmicas da Idade do Ferro e, possivelmente, romanas. A visita foi guiada pelo Rui Francisco (LPN) e pelo Luis Miguel Amigo.






























A Gruta do Forte do Cavalo
Já fora do sistema do Frade, visitámos também a Gruta do Forte do Cavalo, a Oeste do Porto de Sesimbra. Trata-se de uma cavidade ampla, actualmente marcada, pela negativa, pelos despojos de uma equipa de filmagens que aí filmou cenas de filme e que, negligentemente, abandonou os restos dos cenários no local. Foram observados vestígios de violações recentes e materiais arqueológicos, aparentemente da Idade do Ferro e posteriores, nas terras remexidas. A gruta apresenta uma notável potência estratigráfica.






A Costa Azul

Entre a plataforma da Azoia/Pinheirinhos e o mar, existe um patamar mais ou menos desenvolvido onde foi, para já, registado um interessante sítio de habitat com materiais que, maioritariamente, correspondem aos séculos XVII-XIX, mas onde foram igualmente recolhidas moedas da primeira dinastia . Trata-se de um local com algumas evidências de estruturas (um talude, do lado Sul), adjacente à Praia da Baleeira, um antigo porto de pesca, também com restos de estruturas de apoio. O sítio foi descoberto pelo Rui Francisco (LPN).


Ainda no referido patamar, não muito longe da Lapa do Fumo, registou-se a ocorrência de um povoado pré ou proto-histórico, com algumas cerâmicas, líticos e um fragmento de mó manual, em arenito.


Praia da Baleeira


Povoado a juzante da Lapa do Fumo

Este outeiro é melhor de descer que de subir...

Acesso ao mar, com escadaria talhada na rocha



Restos de estrutura rural, de época contemporânea. Trata-se de um recinto de gado ou, em alternativa, de exploração apiária, com dois "compartimentos" geminados, com cerca de 50 m2 cada e com muros de pedra seca.

A equipa analisa as evidências...

Aguncheiras e Praia da Foz
Materiais pré-históricos (sílex e quartzito) dispersos pelas dunas litorais, entre a Praiada Foz e o Espichel.
Áreas em que foram recolhidos artefactos líticos pré-históricos.

Arredores de Sesimbra
Foram efectuadas prospecções na encosta a Leste do vale onde se localiza a vila de Sesimbra; nesses trajectos, foram revisitadas algumas pequenas cavidades cársicas (numa das quais tinha sido, há alguns anos, recolhido um instrumento de pedra polida pela Dra. Rosário Fernandes); foram registados vários sítios com evidências de ocupações de época moderna/contemporânea, um deles com restos de muros conservados e um recinto de provável funcionalidade agro-pecuária (malhada de gado).
Foram igualmente registados materiais pré-históricos, nomeadamente cerâmica manual, sílex e um intsrumento de pedra polida, para além de um muro antigo de época e funcionalidade desconhecidas.




O Projecto

Arqueologia de Sesimbra
Projecto de investigação e valorização do património arqueológico concelhio




1. Introdução

Desde o seu início, nos finais do século XIX, a investigação arqueológica, no concelho de Sesimbra, passou por várias fases, umas de grande actividade, outras de estagnação.
Como é sabido, este concelho foi objecto de uma das primeiras cartas arqueológicas, feitas em território nacional; por outro lado, a introdução de técnicas inovadoras na metodologia arqueológica portuguesa, ensaiadas na escavação da Lapa do Fumo, e a própria riqueza arqueológica dessa gruta, fizeram dela um ponto de referência obrigatório, no meio científico português.
Contudo, nas últimas décadas, a intensidade e a própria visibilidade da investigação sofreram um certo abrandamento, pelo que, actualmente, o concelho parece ter perdido, em muitos aspectos, a relevância merecida, no panorama arqueológico nacional.
Algumas das principais questões levantadas há décadas, a propósito da realidade arqueológica sesimbrense, continuam ainda hoje sem resposta, enquanto, por outro lado, novas questões resultantes do avanço da investigação, em diversas áreas, se devem hoje colocar e equacionar.
Por exemplo, verifica-se uma dicotomia muito acentuada entre a parte sul do concelho, com uma grande densidade de vestígios, e a parte Norte, onde, pelo contrário, quase não se conhecem sítios arqueológicos de qualquer época. Sendo certo que essas diferenças são incontornáveis – e podem traduzir, alternativamente, fenómenos históricos ou tafonómicos, resta saber até que ponto elas não resultam também de um investimento diferencial, em termos de prospecção, traduzindo, por isso, questões ligadas à geografia da investigação.
Outro aspecto que merece alguma reflexão prévia – e a aplicação de metodologias de investigação apropriadas - é a escassez de dados sobre a Idade do Bronze e, sobretudo, a Idade do Ferro, tendo em conta a presença esmagadora de vestígios pré-históricos.
No que diz respeito à época Romana, outra das lacunas mais evidentes, não são de esperar alterações de vulto, atendendo ao carácter habitualmente conspícuo dos vestígios dessa época; mesmo assim, o problema necessita de um correcto enquadramento e do desenvolvimento de métodos adequados de pesquisa; a arqueologia subaquática pode, neste domínio, trazer um contributo determinante.
Para além das questões específicas da arqueologia sesimbrense, importa obter e avaliar os dados que permitam integrar a área do concelho nos diversos quadros regionais e extra-regionais, numa perspectiva diacrónica. As relações com os limites superiores dos estuários do Tejo e do Sado, dois dos elementos maiores da estrutura paisagística regional; as relações, por via marítima, com os litorais Norte e Sul (e, através deles, com distintos focos culturais) ou ainda as relações com o interior, são alguns dos aspectos a considerar, tendo em vista a produção de um discurso fundamentado sobre as paisagens humanas de Sesimbra.
O facto de a região apresentar alguns elementos muito marcantes, do ponto de vista da valorização simbólica das paisagens, como são o Cabo Espichel, a serra do Risco ou as próprias grutas naturais, permitir-nos-á, em princípio, equacionar o papel da economia, por um lado, e dos comportamentos simbólicos, por outro, na formação do registo arqueológico de Sesimbra.

2. Objectivos gerais

Para além dos avanços científicos, fundamentais para a valorização do património cultural de Sesimbra, mas com um alcance que extravasa, naturalmente, os limites concelhios, pretende-se:
a) consolidar informação básica, sobre a qual se podem e devem alicerçar discursos de âmbito pedagógico – dirigidos, nomeadamente, à população escolar do concelho e a todos os interessados nas questões ligadas à história regional;
b) ampliar a base de dados sobre o património arqueológico concelhio, por forma a constituir um instrumento eficaz para gestão do território, cuja eficácia depende, naturalmente, da localização precisa dos vestígios;
c) identificar, caracterizar e, eventualmente, valorizar os sítios arqueológicos com maior potencial turístico-cultural.

3. Metodologia

Este projecto prevê a realização de trabalhos arqueológicos em três áreas, que embora complementares, se podem vir a desenrolar autonomamente.
3.1. Prospecções arqueológicas. Trabalho de identificação, localização e delimitação, com GPS, de novos sítios arqueológicos, com base em prospecções tanto quanto possível sistemáticas, assim como a relocalização e delimitação, igualmente com GPS, dos sítios identificados e/ou publicados por E. Cunha Serrão.
Atendendo às suas especificidades geomorfológicas e arqueológicas, a área litoral localizada entre o Cabo Espichel e a Arrábida contará com a participação dos elementos do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) .

3.2. Estudo de materiais arqueológicos. Trabalho de inventariação, desenho e estudo dos materiais arqueológicos provenientes de escavações antigas, nomeadamente os da Lapa do Fumo.

3.3. Sondagens e/ou escavações arqueológicas em sítios que, pelo seu potencial científico e/ou turístico-cultural, deverão ser alvo de acções protecção ou valorização, como é o caso da Lapa do Fumo.
Prevê-se, no final do Projecto, publicar os dados obtidos, sob a forma de Carta Arqueológica concelhia, sem prejuízo da publicação, sob a forma de artigos, em publicações científicas, nomeadamente Revistas ou Actas de Congressos, de resultados parcelares, considerados relevantes.



4. Equipa
Arqueologia:
Manuel Calado (Professor Auxiliar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
Luís Jorge Gonçalves (Professor Auxiliar na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa)
Leonor Rocha (Professora Auxiliar na Universidade de Évora)
Rosário Fernandes (Arqueóloga)
Patrícia Carvalho (Arqueóloga - Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática)
Andreia Conceição (Arqueóloga - Câmara Municipal de Sesimbra)
Rui Marques (Antropólogo - Câmara Municipal de Sesimbra)
João Pinhal (Técnico Auxiliar de Museografia - Câmara Municipal de Sesimbra)

Topografia e Cartografia:
Pedro Alvim (Arquitecto)

Espeleologia:
Francisco Rasteiro - Núcleo de Espeleologia da Costa Azul
Rui Francisco - Liga para a Proteção da Natureza

Participantes:
Alunos de Arqueologia das Universidades de Lisboa e de Évora



BIBLIOGRAFIA

CARDOSO, João Luís e CUNHA, Armando Santinho
A Lapa da Furada. Resultados das escavações arqueológicas realizadas em Setembro de 1992 e 1941. Sesimbra, Câmara Municipal de Sesimbra, 1995.

CARDOSO, João Luís
A primeira campanha de escavações realizadas na Lapa da Furada (Sesimbra). Sesimbra Cultural, nº 3, Câmara Municipal de Sesimbra, 1993, pp.15-17.

A jazida neolítica da Amieira (Sesimbra).Sesimbra Cultural, nº 2, Câmara Municipal de Sesimbra, 1992, pp. 10-14.

Sobre os ídolos de calcário - “pinhas”- do calcolítico da Estremadura - Algumas considerações sobre dois exemplares da Lapa do Bugio. Sesimbra Cultural, nº 1, Câmara Municipal de Sesimbra, 1991, pp.6-14.

A Lapa do Bugio. Sesimbra Cultural, nº 0, Câmara Municipal de Sesimbra, 1990, pp.15-34.

Investigação arqueológica na área de Lisboa. Os últimos 10 anos: 1984-1993. Al-Madan, Serie II, nº3, pp 59-74.

O litoral sesimbrense da Arrábida. Resenha dos conhecimentos da sua evolução quaternária e
das ocupações humanas correlativas. Sesimbra Cultural, nº 4, Câmara Municipal de Sesimbra, pp. 5-12.

SERRÃO, Eduardo Cunha
Cerâmicas de ornatos brunidos e cores da Lapa do Fumo (Sesimbra). Actas e Memórias do I
Congresso Nacional de Arqueologia, vol.1, Lisboa, 1959, pp.337-359.

Alguns problemas arqueológicos da região de Sesimbra. Arqueologia e Historia, 8ª serie, vol. IX, 1962, pp.41.

Um pequeno museu arqueológico regional. Arqueologia e Historia, 8ª série, vol.IX, 1962,
pp.105-125.

A necrópole proto-histórica do Casalão (Sesimbra). Junta Distrital de Setúbal, 1964, pp.50.

Bronzes de Alfarim e de Pedreiras. Subsídios para o estudo do Bronze Atlântico. Revista da
Faculdade de Letras de Lisboa, III série, nº10, 1966, pp.30.

As grutas A e B do Forte do Cavalo. Boletim do centro de Estudos do Museu Arqueológico
de Sesimbra, vol. 1, 1967, Edição da Liga dos Amigos do Castelo de Sesimbra, 1967, pp 24-39.

A Lapa do Fumo. Geographica, ano IV, nº 15, 1968, pp.69-92.

Carta Arqueológica do Conselho de Sesimbra. Desde o Paleolítico até 1200 d.C. Junta Distrital de Setúbal, 1973.

A estação arqueológica do Vale da Palha (Calhariz). Estudos Arqueológicos, 1968-1971, Junta Distrital de Setúbal, pp. 129-153.

Contribuições arqueológicas do Sudoeste da Península de Setúbal. Setúbal Arqueológica, nº1, 1975, pp. 199-225.

Sobre a periodização do Neolítico e Calcolítico do território português. Actas da 1ª Mesa- Redonda sobre o Neolítico e o Calcolítico em Portugal, Porto, 1979, pp.147-182.

MAIA, Manuel
Cepos de Chumbo de âncora romanos encontrados ao largo de Sesimbra. Setúbal Arqueológica, 1, 1975, pp.177-180.

MARINHO, J Rodrigues
Moedas muçulmanas de Beja e Silves. Edição da Câmara Municipal de Sesimbra, 1968.

MARQUES, Gustavo
Rede viária da zona do Castelo. Boletim do Centro de Estudos do Museu de Sesimbra,
Edição da Liga dos Amigos do Castelo de Sesimbra, nº 1, 1967, pp.10-21.

SILVA, Carlos Tavares da e SOARES, Joaquina
Arqueologia da Arrábida. Colecção Parques Naturais, nº 5 , 1986, pp.48 e 84-85.

SOARES, Joaquina, SILVA, Carlos Tavares da e BARROS, Luís
Identificação de uma jazida neolítica em Fonte de Sesimbra (Santana). Setúbal Arqueológica, 5, 1979, pp.47-65.

QUEROL, M. Angeles
Moedas portuguesas do Museu de Sesimbra, I Dinastia. Estudos Arqueológicos, nº1, Junta
Distrital de Setúbal, 1974, pp. 155-175.

RIBEIRO, Orlando
A Arrabida - Esboço geográfico. Revista Faculdade de Letras de Lisboa, tomo IV, nº1,
Lisboa, 1937, pp. 2-131.

Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico - Esboço de relações geográficas. Lisboa, 1967.