Wednesday, April 25, 2007

O Projecto

Arqueologia de Sesimbra
Projecto de investigação e valorização do património arqueológico concelhio




1. Introdução

Desde o seu início, nos finais do século XIX, a investigação arqueológica, no concelho de Sesimbra, passou por várias fases, umas de grande actividade, outras de estagnação.
Como é sabido, este concelho foi objecto de uma das primeiras cartas arqueológicas, feitas em território nacional; por outro lado, a introdução de técnicas inovadoras na metodologia arqueológica portuguesa, ensaiadas na escavação da Lapa do Fumo, e a própria riqueza arqueológica dessa gruta, fizeram dela um ponto de referência obrigatório, no meio científico português.
Contudo, nas últimas décadas, a intensidade e a própria visibilidade da investigação sofreram um certo abrandamento, pelo que, actualmente, o concelho parece ter perdido, em muitos aspectos, a relevância merecida, no panorama arqueológico nacional.
Algumas das principais questões levantadas há décadas, a propósito da realidade arqueológica sesimbrense, continuam ainda hoje sem resposta, enquanto, por outro lado, novas questões resultantes do avanço da investigação, em diversas áreas, se devem hoje colocar e equacionar.
Por exemplo, verifica-se uma dicotomia muito acentuada entre a parte sul do concelho, com uma grande densidade de vestígios, e a parte Norte, onde, pelo contrário, quase não se conhecem sítios arqueológicos de qualquer época. Sendo certo que essas diferenças são incontornáveis – e podem traduzir, alternativamente, fenómenos históricos ou tafonómicos, resta saber até que ponto elas não resultam também de um investimento diferencial, em termos de prospecção, traduzindo, por isso, questões ligadas à geografia da investigação.
Outro aspecto que merece alguma reflexão prévia – e a aplicação de metodologias de investigação apropriadas - é a escassez de dados sobre a Idade do Bronze e, sobretudo, a Idade do Ferro, tendo em conta a presença esmagadora de vestígios pré-históricos.
No que diz respeito à época Romana, outra das lacunas mais evidentes, não são de esperar alterações de vulto, atendendo ao carácter habitualmente conspícuo dos vestígios dessa época; mesmo assim, o problema necessita de um correcto enquadramento e do desenvolvimento de métodos adequados de pesquisa; a arqueologia subaquática pode, neste domínio, trazer um contributo determinante.
Para além das questões específicas da arqueologia sesimbrense, importa obter e avaliar os dados que permitam integrar a área do concelho nos diversos quadros regionais e extra-regionais, numa perspectiva diacrónica. As relações com os limites superiores dos estuários do Tejo e do Sado, dois dos elementos maiores da estrutura paisagística regional; as relações, por via marítima, com os litorais Norte e Sul (e, através deles, com distintos focos culturais) ou ainda as relações com o interior, são alguns dos aspectos a considerar, tendo em vista a produção de um discurso fundamentado sobre as paisagens humanas de Sesimbra.
O facto de a região apresentar alguns elementos muito marcantes, do ponto de vista da valorização simbólica das paisagens, como são o Cabo Espichel, a serra do Risco ou as próprias grutas naturais, permitir-nos-á, em princípio, equacionar o papel da economia, por um lado, e dos comportamentos simbólicos, por outro, na formação do registo arqueológico de Sesimbra.

2. Objectivos gerais

Para além dos avanços científicos, fundamentais para a valorização do património cultural de Sesimbra, mas com um alcance que extravasa, naturalmente, os limites concelhios, pretende-se:
a) consolidar informação básica, sobre a qual se podem e devem alicerçar discursos de âmbito pedagógico – dirigidos, nomeadamente, à população escolar do concelho e a todos os interessados nas questões ligadas à história regional;
b) ampliar a base de dados sobre o património arqueológico concelhio, por forma a constituir um instrumento eficaz para gestão do território, cuja eficácia depende, naturalmente, da localização precisa dos vestígios;
c) identificar, caracterizar e, eventualmente, valorizar os sítios arqueológicos com maior potencial turístico-cultural.

3. Metodologia

Este projecto prevê a realização de trabalhos arqueológicos em três áreas, que embora complementares, se podem vir a desenrolar autonomamente.
3.1. Prospecções arqueológicas. Trabalho de identificação, localização e delimitação, com GPS, de novos sítios arqueológicos, com base em prospecções tanto quanto possível sistemáticas, assim como a relocalização e delimitação, igualmente com GPS, dos sítios identificados e/ou publicados por E. Cunha Serrão.
Atendendo às suas especificidades geomorfológicas e arqueológicas, a área litoral localizada entre o Cabo Espichel e a Arrábida contará com a participação dos elementos do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) .

3.2. Estudo de materiais arqueológicos. Trabalho de inventariação, desenho e estudo dos materiais arqueológicos provenientes de escavações antigas, nomeadamente os da Lapa do Fumo.

3.3. Sondagens e/ou escavações arqueológicas em sítios que, pelo seu potencial científico e/ou turístico-cultural, deverão ser alvo de acções protecção ou valorização, como é o caso da Lapa do Fumo.
Prevê-se, no final do Projecto, publicar os dados obtidos, sob a forma de Carta Arqueológica concelhia, sem prejuízo da publicação, sob a forma de artigos, em publicações científicas, nomeadamente Revistas ou Actas de Congressos, de resultados parcelares, considerados relevantes.



4. Equipa
Arqueologia:
Manuel Calado (Professor Auxiliar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
Luís Jorge Gonçalves (Professor Auxiliar na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa)
Leonor Rocha (Professora Auxiliar na Universidade de Évora)
Rosário Fernandes (Arqueóloga)
Patrícia Carvalho (Arqueóloga - Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática)
Andreia Conceição (Arqueóloga - Câmara Municipal de Sesimbra)
Rui Marques (Antropólogo - Câmara Municipal de Sesimbra)
João Pinhal (Técnico Auxiliar de Museografia - Câmara Municipal de Sesimbra)

Topografia e Cartografia:
Pedro Alvim (Arquitecto)

Espeleologia:
Francisco Rasteiro - Núcleo de Espeleologia da Costa Azul
Rui Francisco - Liga para a Proteção da Natureza

Participantes:
Alunos de Arqueologia das Universidades de Lisboa e de Évora



BIBLIOGRAFIA

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