Esta viagem começa
onde a terra acaba.
O Cabo Espichel.
Uma lança de rocha cravada profundamente no Oceano.
O limite mais ocidental dos territórios de entre o Tejo e o Sado.
Nesta terra agreste, de vegetação rasteira, calcários e areias,
o mar comanda a vida.
Na linha de costa, de recorte abrupto,
existem inúmeras cavidades naturais, janelas do interior da terra abertas sobre as ondas.
Quando, há mais de sete mil anos, as primeiras sociedades sedentárias lançaram âncora,
esta paisagem encantada tornou-se, durante alguns milénios, o mundo dos antepassados.
As grutas eram, naturalmente, desde épocas muito mais antigas, lugares de excepção, propícias ao recolhimento e às epifanias e, no neolítico, tornaram-se verdadeiras necrópoles subterrâneas.
Os mortos eram, ritualmente, devolvidos ao ventre da Terra, a mãe de todos os seres.
O cabo era um enorme barco de pedra que transportava, no seu interior, os defuntos, em direcção ao mar onde o Sol se esconde.
Metáforas perfeitas da condição humana.
A Lapa do Fumo, a melhor conhecida, é um exemplo do uso prolongado dessas cavidades como cemitérios e ossários.
O acesso fazia-se, como na maior parte dos casos, por uma passagem estreita; lá dentro, o mundo maravilhoso e onírico das formações cársicas.
Algumas estalagmites emergem, sugestivamente antropomórficas.
A Oriente, no Alentejo Central, foram erguidos, há sete mil anos, alguns dos primeiros grandes monumentos do continente europeu: os menires.
No Cabo Espichel começava (ou terminava) um dos mais importantes caminhos naturais da Península: a linha que separa as bacias hidrográficas do Tejo e do Sado e que, em Évora, conflui com as que separam as bacias destes rios da bacia do Guadiana.
Ao longo desta via fundamental, circularam, em praticamente todas as épocas, homens, ideias e produtos.
Hirtos e mudos, os menires evocam, até certo ponto, as estalagmites e outras formações naturais, de recorte antropomórfico.
À volta de Évora, veio a desenvolver-se um dos principais pólos da cultura megalítica europeia: numa primeira fase, surgiram os recintos megalíticos, de que se destaca o chamado cromeleque dos Almendres, o maior monumento megalítico da Península Ibérica.
Surgiram igualmente, nessa época (há cerca de sete mil anos) os menires isolados, como o do Monte dos Almendres, alguns deles com uma iconografia muito específica, no contexto do Neolítico europeu.
Numa segunda fase, há cerca de seis mil anos, o Alentejo Central começou a ser marcado com antas de diversos tipos e dimensões, culminando no extraordinário monumento conhecido como Anta Grande do Zambujeiro, o dólmen mais alto do mundo.
Uma parte destes monumentos foi destruído pelo tempo e, sobretudo, pelos homens, Outras, foram apropriadas, transformadas e reintegradas em sistemas de crenças muito afastados do sentido original.
Entre as grutas naturais de Sesimbra e as antas do Alentejo, foram construídos outros monumentos funerários que partilham características intermédias: é o caso das grutas artificiais da Quinta do Anjo, em Palmela.
Antas, grutas artificiais ou grutas naturais constituem, aliás, variantes de um conceito comum, onde tiveram lugar rituais funerários análogos.
As placas de xisto, de origem alentejana, são, por sua vez, um dos elos de ligação mais interessantes entre o universo simbólico do Alentejo e o da Península de Setúbal.
Trata-se de objectos, de significado polémico, mas certamente relacionados com o Sagrado.
As largas centenas de exemplares conhecidos apresentam um aspecto genericamente antropomórfico e, apesar de existirem inúmeras variantes, é fácil reconhecer-lhes um certo ar de família.
Na verdade, estamos perante um dos mistérios da Pré-história do Sul de Portugal.
Entre o litoral e o interior.
onde a terra acaba.
O Cabo Espichel.
Uma lança de rocha cravada profundamente no Oceano.
O limite mais ocidental dos territórios de entre o Tejo e o Sado.
Nesta terra agreste, de vegetação rasteira, calcários e areias,
o mar comanda a vida.
Na linha de costa, de recorte abrupto,
existem inúmeras cavidades naturais, janelas do interior da terra abertas sobre as ondas.
Quando, há mais de sete mil anos, as primeiras sociedades sedentárias lançaram âncora,
esta paisagem encantada tornou-se, durante alguns milénios, o mundo dos antepassados.
As grutas eram, naturalmente, desde épocas muito mais antigas, lugares de excepção, propícias ao recolhimento e às epifanias e, no neolítico, tornaram-se verdadeiras necrópoles subterrâneas.
Os mortos eram, ritualmente, devolvidos ao ventre da Terra, a mãe de todos os seres.
O cabo era um enorme barco de pedra que transportava, no seu interior, os defuntos, em direcção ao mar onde o Sol se esconde.
Metáforas perfeitas da condição humana.
A Lapa do Fumo, a melhor conhecida, é um exemplo do uso prolongado dessas cavidades como cemitérios e ossários.
O acesso fazia-se, como na maior parte dos casos, por uma passagem estreita; lá dentro, o mundo maravilhoso e onírico das formações cársicas.
Algumas estalagmites emergem, sugestivamente antropomórficas.
A Oriente, no Alentejo Central, foram erguidos, há sete mil anos, alguns dos primeiros grandes monumentos do continente europeu: os menires.
No Cabo Espichel começava (ou terminava) um dos mais importantes caminhos naturais da Península: a linha que separa as bacias hidrográficas do Tejo e do Sado e que, em Évora, conflui com as que separam as bacias destes rios da bacia do Guadiana.
Ao longo desta via fundamental, circularam, em praticamente todas as épocas, homens, ideias e produtos.
Hirtos e mudos, os menires evocam, até certo ponto, as estalagmites e outras formações naturais, de recorte antropomórfico.
À volta de Évora, veio a desenvolver-se um dos principais pólos da cultura megalítica europeia: numa primeira fase, surgiram os recintos megalíticos, de que se destaca o chamado cromeleque dos Almendres, o maior monumento megalítico da Península Ibérica.
Surgiram igualmente, nessa época (há cerca de sete mil anos) os menires isolados, como o do Monte dos Almendres, alguns deles com uma iconografia muito específica, no contexto do Neolítico europeu.
Numa segunda fase, há cerca de seis mil anos, o Alentejo Central começou a ser marcado com antas de diversos tipos e dimensões, culminando no extraordinário monumento conhecido como Anta Grande do Zambujeiro, o dólmen mais alto do mundo.
Uma parte destes monumentos foi destruído pelo tempo e, sobretudo, pelos homens, Outras, foram apropriadas, transformadas e reintegradas em sistemas de crenças muito afastados do sentido original.
Entre as grutas naturais de Sesimbra e as antas do Alentejo, foram construídos outros monumentos funerários que partilham características intermédias: é o caso das grutas artificiais da Quinta do Anjo, em Palmela.
Antas, grutas artificiais ou grutas naturais constituem, aliás, variantes de um conceito comum, onde tiveram lugar rituais funerários análogos.
As placas de xisto, de origem alentejana, são, por sua vez, um dos elos de ligação mais interessantes entre o universo simbólico do Alentejo e o da Península de Setúbal.
Trata-se de objectos, de significado polémico, mas certamente relacionados com o Sagrado.
As largas centenas de exemplares conhecidos apresentam um aspecto genericamente antropomórfico e, apesar de existirem inúmeras variantes, é fácil reconhecer-lhes um certo ar de família.
Na verdade, estamos perante um dos mistérios da Pré-história do Sul de Portugal.
Entre o litoral e o interior.
1 comment:
parabéns pelo texto, está fantástico!
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