Numa primeira fase, a desenvolver entre Abril e Junho de 2007, o objectivo principal, em termos de trabalho de campo, é a revisão e reavaliação dos sítios já identificados, assim como a respectiva referenciação, com coordenadas obtidas com GPS.
Estes sítios correspondem, na sua maioria, aos que foram sendo registados, desde os finais do século XIX, e que foram reunidos na Carta Arqueológica de Sesimbra (obra póstuma, editada pela Câmara Municipal de Sesimbra, em 1994, da autoria de Eduardo da Cunha Serrão).
A essa listagem somam-se alguns dados entretanto descobertos e publicados por João Luis Cardoso e, sobretudo, um conjunto significativo de novos sítios, descobertos pela equipa do NECA - Núcleo de Espeleologia da Costa Azul, alguns deles com a colaboração da Dra. Rosário Fernandes.
A revisão dos sítios conhecidos serve, por outro lado, como formação/treino dos elementos da equipa, para além de proporcionar uma perspectiva global das possibilidades e limitações do concelho de Sesimbra, em termos de prospecção arqueológica de superfície.
Com base nesta avaliação preliminar, serão delineadas as estratégias de prospecção a adoptar, em função de múltiplos factores: acessibilidade, coberto vegetal, resolução de questões científicas colocadas pelos dados disponíveis.
As pegadas de dinossáurios do Cabo Espichel
Antes do início dos trabalhos propriamente ditos, a equipa visitou, guiada pelo Prof. Dr. Luis Gonçalves, as pegadas de dinossáurios do Cabo Espichel. Numa paisagem muito especial. Mais informação no Gema Blog
O Sumidouro dos Ouriços
Depois de uma tentativa frustrada para relocalizar a Roça do Casal do Meio (monumento de falsa cúpula, com dois enterramentos do Bronze Final), numa área com um coberto vegetal muito denso, identificámos, nas imediações de uma cavidade cársica (o Sumidouro dos Ouriços) descoberta e explorada pelo NECA, um povoado pré-histórico que, atendendo aos escassos materiais observados, pode, provisoriamente, ser atribuído ao Neolítico final (cerâmica manual, lascas de sílex e um fragmento de lâmina espessa, retocada). O povoado ocupa uma área plana, fértil (os Prados), enquadrada pela Serra da Arrábida, a Serra do Risco e as Terras do Meio. Note-se que, na exploração da cavidade, tinham já sido identificados alguns fragmentos de cerâmicas manuais.
A paisagem dos Prados. O povoado identificado localiza-se nos terrenos cultivados, em segundo plano.
O Sumidouro dos Ouriços, em cuja desobstrução, pela equipa do NECA, foram recolhidas cerâmicas manuais.
Amieira
Sítio identificado por João Pinhal (CMS), foi classificado como Neolítico, pelo Pof. Dr. João Cardoso. Porém, a ausência de cerâmicas e a própria estrutura das indústrias líticas - a par da localização do sítio - sugerem antes uma atribuição cronológico-cultural ao Mesolítico Final. De entre os artefactos mais característicos, destacam-se os trapézios e os triângulos. Localiza-se numa lomba transversal à linha de costa, a algumas centenas de metros da foz da ribeira da Amieira. Os materiais dispersam-se, maioritariamente, numa encosta suave, exposta a Sul.
Amieira
Sítio identificado por João Pinhal (CMS), foi classificado como Neolítico, pelo Pof. Dr. João Cardoso. Porém, a ausência de cerâmicas e a própria estrutura das indústrias líticas - a par da localização do sítio - sugerem antes uma atribuição cronológico-cultural ao Mesolítico Final. De entre os artefactos mais característicos, destacam-se os trapézios e os triângulos. Localiza-se numa lomba transversal à linha de costa, a algumas centenas de metros da foz da ribeira da Amieira. Os materiais dispersam-se, maioritariamente, numa encosta suave, exposta a Sul.
Fonte de Sesimbra
Povoado neolítico (com cerâmica decorada, pedra polida, pedra lascada, nomeadamente sílex, quartzo e quartzito e elemento de mó manual). Foi descoberto por Luis Barros e estudado por Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares. Localiza-se numa plataforma arenosa, entre duas linhas de água. A revisão do sítio e da área envolvente, permitiou identificar quatro nosvos sítios com materiais pré-históricos (dois achados avulsos de sílex e quartzito e dois outros com cerâmica, sílex e uma bigorna dupla).
Bolsa de terra escura, arqueológica, num corte recente, na área do estaleiro da CMS
Cavidades do sistema do Frade
Foram visitadas e cartografadas várias cavidades inéditas (Lapa dos Pinheirinhos, Lapa do Sono, Lapa do Jerónimo, Lapa dos Corvos, Lapa das Janelas 1, Lapa de 4 de Maio) de vários tipologias, ao longo da arriba entre os Pinheirinhos e o Cabo Espichel. Foi ainda visitada a Lapa do Bugio. A maior parte apresenta vestígios de utilização funerária. Foram ainda visitadas as Lapas do Agoirento e dos Velhos, estas, aparentemente, sem vestígios arqueológicos. Na Lapa das Janelas 1 foram identificadas cerâmicas da Idade do Ferro e, possivelmente, romanas. A visita foi guiada pelo Rui Francisco (LPN) e pelo Luis Miguel Amigo.
A Gruta do Forte do Cavalo
Já fora do sistema do Frade, visitámos também a Gruta do Forte do Cavalo, a Oeste do Porto de Sesimbra. Trata-se de uma cavidade ampla, actualmente marcada, pela negativa, pelos despojos de uma equipa de filmagens que aí filmou cenas de filme e que, negligentemente, abandonou os restos dos cenários no local. Foram observados vestígios de violações recentes e materiais arqueológicos, aparentemente da Idade do Ferro e posteriores, nas terras remexidas. A gruta apresenta uma notável potência estratigráfica.
A Costa Azul
Entre a plataforma da Azoia/Pinheirinhos e o mar, existe um patamar mais ou menos desenvolvido onde foi, para já, registado um interessante sítio de habitat com materiais que, maioritariamente, correspondem aos séculos XVII-XIX, mas onde foram igualmente recolhidas moedas da primeira dinastia . Trata-se de um local com algumas evidências de estruturas (um talude, do lado Sul), adjacente à Praia da Baleeira, um antigo porto de pesca, também com restos de estruturas de apoio. O sítio foi descoberto pelo Rui Francisco (LPN).
Ainda no referido patamar, não muito longe da Lapa do Fumo, registou-se a ocorrência de um povoado pré ou proto-histórico, com algumas cerâmicas, líticos e um fragmento de mó manual, em arenito.
Acesso ao mar, com escadaria talhada na rocha
Restos de estrutura rural, de época contemporânea. Trata-se de um recinto de gado ou, em alternativa, de exploração apiária, com dois "compartimentos" geminados, com cerca de 50 m2 cada e com muros de pedra seca.
A equipa analisa as evidências...
Aguncheiras e Praia da Foz
Materiais pré-históricos (sílex e quartzito) dispersos pelas dunas litorais, entre a Praiada Foz e o Espichel.
Áreas em que foram recolhidos artefactos líticos pré-históricos.
Arredores de Sesimbra
Foram efectuadas prospecções na encosta a Leste do vale onde se localiza a vila de Sesimbra; nesses trajectos, foram revisitadas algumas pequenas cavidades cársicas (numa das quais tinha sido, há alguns anos, recolhido um instrumento de pedra polida pela Dra. Rosário Fernandes); foram registados vários sítios com evidências de ocupações de época moderna/contemporânea, um deles com restos de muros conservados e um recinto de provável funcionalidade agro-pecuária (malhada de gado).
Foram igualmente registados materiais pré-históricos, nomeadamente cerâmica manual, sílex e um intsrumento de pedra polida, para além de um muro antigo de época e funcionalidade desconhecidas.
2 comments:
Professor, MUITO OBRIGADA!!!
Está excelente e estas prospecções são tudo o que nós pedimos a Deus!! Nós queremos é nódoas negras, arranhões e bolhas!
(isto não é graxa, obrigada mesmo)
Isabel Matos
Bom... eu não resisto em dar alguma graxa (por alguma razão existem alunos e professores). É uma grande honra poder trabalhar com o mais mítico e talvez O MAIOR prospector alentejano voador de Portugal.
Agora, fora brincadeiras… estou muito agradecido pelos conhecimentos transmitidos, pela humildade e a alegria, com que o professor vive a arqueologia (qualidades raras na arqueologia).
Muito obrigado Calado, boa continuação neste grande projecto.
Cézer Santos
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