Wednesday, April 21, 2010

Intro(pro)specções

 ou introspecções Pro

Um inverno excepcionalmente chuvoso multiplicou as enormes dificuldades logísticas envolvidas na escavação da Lapa da Cova. Quase uma hora de marcha, a pé (com equipamento, comida e combustível às costas), só para chegar diariamente ao "local de trabalho".
Serra acima e, no troço final, falésia abaixo.
Por uma rampa estreita, à beira do abismo, particularmente escorregadia quando chove.
Outro tanto, de regresso à base.   
Atarefada (e empolgada) no trabalho fantástico que tem em curso,  a equipa da Lapa da Cova não tem, nesta fase, prospecções realizadas nem previstas, na Arrábida e arredores 
Porém, em contra corrente das lamúrias da concorrência (lamúria 1) (lamúria 2) (lamúria 3) que, neste caso, não passam de desculpas de maus pagadores, temos vindo a identificar uma série de sítios, de diversos tipos, cuja descoberta não foi, em nada, prejudicada pelo rigor do inverno ou pela exuberância da primavera...
De resto, para não desperdiçarmos recursos, a prospecção arqueológica tem que ser adaptada às condições de terreno, em cada região concreta, em função de diversas variáveis.
Quanto à chuva, é mesmo uma questão de galocha e impermeável.
Arqueólogo não costuma ser solúvel na água. 

Estudar um sítio passa, entre muitos aspectos, pelo estudo da sua circunstância. Nesse sentido, explorando as poucas vias de acesso à Lapa da Cova - a partir do interior ou a partir do mar - acabámos por detectar, literalmente "en passant", um conjunto de sítios arqueológicos que, tendo em conta a localização e a cronologia, se podem relacionar com o santuário da Idade do Ferro.
A-
1. Logo junto ao local onde a equipa costuma deixar as viaturas, na base da serra, perto da povoação de Pedreiras, foi registado, ao longo de cerca de 150 m (no próprio caminho de terra batida) uma ocupação do Bronze Final, que vem ampliar a presença já de si excepcional, de povoamento dessa época.
2. No topo da serra, perto da rampa de acesso à Lapa da Cova, registámos, numa clareira, várias concentrações de blocos calcários que, a priori, podem corresponder a estruturas funerárias sidéricas, mas que só a escavação poderá esclarecer.
Já na rampa de acesso, anotámos a presença de 2 fragmentos de cerâmica manual, provavelmente protohistórica. Relacionados com o uso do santuário?
3. Junto à entrada da gruta, mas fora do respectivo cone de dejecção, registámos também a ocorrência de cerâmica manual e de roda, em dois pontos distintos.
4. A cerca de 100 m a Oeste da gruta, no único caminho que permite o acesso ao mar, antes de uma cascalheira, regustámos um pequeno abrigo, com cerâmica manual, protohistórica, no interior e nas imediações. 
5. A cerca de 100 m do abrigo, no limite ocidental da cascalheira, registámos materiais protohistóricos (cerâmica manual mas, sobretudo, cerâmica de roda).
6. No acesso à praia do Calhau da Cova, junto a um pequeno abrigo natural, registámos a presença de um fragmento de cerâmica manual.
7. Num acesso, relativamente difícil, pela falésia, a oriente da Lapa da Cova, foram observados alguns fragmentos de cerâmica de roda 

B- Mas, milagre, mesmo sem procurarmos, os sítios andam aí... Fazer o quê?
1. O Miguel Amigo (o povo está contigo) passeando a Blacky lá perto da casa dele, nos Pinheirinhos, encontrou, sem querer, mais um povoado neolítico...



2.  O Ricardo Querido (o povo também está contigo) perdeu-se numas voltas manhosas para chegar à Lapa da Cova e, milagre, encontrou mais um dos misteriosos círculos do Risco.
3. E o pessoal da espeleologia, na Arrábida setubalense, parece que encontrou mais cacos em grutas. Chatice... vamos dedicar-nos ao estudo das linhas de água e das flores.

1 comment:

Ricardo Soares said...

Quem anda à chuva molha-se... no mínimo.-)